domingo, 2 de agosto de 2015

Caridade

Durante muitos anos questionei-me sobre essa acção, com fazê-la? Perdida nessa palavra agi conforme inicialmente entendia, que leva sempre anulação do nosso Eu.
Queremos carregar o outro ao colo, desdobramo-nos em mil, para satisfazer as necessidades dos outros, ouvimos a dor do outro, permitimos que o outro nos agrida, pela nossa ignorância da compreensão do que é dar “a outra face”, acabamos por invalidar-nos, deixando de existir.
Quando essa sensação nos bate à porta, derruba toda a nossa construção inicial da satisfação em nosso íntimo. Porque será que isso acontece?
Diz-se que a Caridade deve ser feita sem qualquer interesse, é um aprendizado de amor e humildade. E nós, já aprendemos o verdadeiro amor? E humildes, nós já somos?
Se ainda estamos num caminho de evolução do nosso ser, ou seja, estamos a aprender amar, a aprender a ser humildes, como é que nós sabemos ser caridosos?
Após muita reflexão cheguei a uma conclusão: Nós ainda estamos a aprender como ser caridosos.
Ponderando; quando nós procuramos algo, Deus, a divindade em nós, existe um vazio, uma insatisfação em nosso Íntimo, que nos leva à busca do preenchimento desse vácuo, que no caso de muitos leva à caridade. Quando iniciamos esse processo, sentimo-nos seres melhores, motivados a viver. Esse sentimento fez-me cogitar, que quando faço algo de bom, o meu vazio é preenchido, então quando fazemos essa suposta caridade, será que não estamos a alimentar o nosso Ego?
Não é só aquele que quando faz o bem e conta aos sete ventos o que fez, que tem interesses ocultos na sua acção, muitos de nós também ainda não entendemos a frase de Jesus “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mateus 6:3). Quando fazemos algo que satisfaz o nosso Ego, o vazio em nós, não estamos a fazer o bem, sem olhar a quem, porque estamos a satisfazer uma necessidade, ou seja a nossa mão esquerda sabe o que a direita faz. Nesta situação, nós no final ficamos sempre à espera do reconhecimento, até de Deus! Mesmo que digamos: - Ele nem disse obrigado, mas olha nem me importo! Ou até:- Meu Deus, porque só me acontece essas coisas, se eu só faço o bem! Mas meu Pai, eu aceito Essa Cruz! – Estamos a mentir para nós mesmos, porque se tivéssemos o entendimento, também tínhamos a aceitação, não haveria questionamentos, muito menos a lamentação.  
Reflectindo que tudo tem um início e uma caminhada até à verdadeira evolução de cada um, é compreensível que nós ainda movemo-nos pelas necessidades do Ego, porque só assim nós também nos ajudamos, crescemos. Sendo assim, não existe errado nessa satisfação do nosso ego, é só um caminho até à nossa evolução, mas devemos sempre reflectir e questionar as nossas intenções. 
Penso na caridade como um processo ainda a ser aprendido. Que devemos ter um discernimento na sua prática, questionando sempre o que estamos a fazer, os nossos interesses por de trás. Quando chegarmos ao ponto de praticá-la como Jesus fazia, percebemos que era algo natural Nele. Ele não buscava as pessoas, elas vinham até ele, e, nas multidões Ele sabia, na verdade, no momento exacto, quem era merecedor da caridade.
Temos uma longa caminha a ser feita para compreender o que é Caridade.
Z.O