domingo, 16 de outubro de 2016

Traços da vida

No texto anterior escrevi como a nossa vida é corrida, não conseguimos parar nem para refletir sobre o próprio dia. Corremos para um lado e para outro numa azáfama sem fim, para chegar ao final desse mesmo dia cansados, sem a sensação de termos vivido o dia, só sobrevivido.

É uma labuta diária de ter que fazer o melhor, atingir ou conseguir algo, como uma posição social, um posto de trabalho com “patente”, uma casa “xpto” e um carro da gama “tal”, para chegar ao final de uma vida, com ela vazia. Sendo a nossa argumentação as viagens que fizemos, a comida que comemos, as casas e os carros que possuímos. São traços que fazemos na nossa vida, como padrões, status sociais para os homens na terra… E como fica a tua essência? O teu aprimoramento como ser? A tua transformação interior, como ser magnânimo filho de Deus?

Jesus no livro Mateus 16:26 diz: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?”

Pelo materialismo imposto em nós, seguimos as correntes da vaidade, da sedução, da competição injusta e do orgulho besta, que nos leva as trevas da nossa própria alma.
O problema não está nas coisas que almejamos, mas sim no como almejamos e nos meios que são utilizados para conseguirmos.
E quando temos todos esses meios, como nós desfrutamos? Sabemos que Deus pode permitir hoje, mas amanhã pode tirar. Desperdiçamos só no nosso bom proveito, esbanjando de uma forma pueril, ou sabemos utiliza-lo também no progresso da humanidade, auxiliando quando possível o irmão de caminhada?

Acredito sempre, que quando doamos de nós, completamo-nos, transformamo-nos em seres um pouco mais divinos que somos, que esquecemos, sentindo dentro a proximidade de Deus e amados por Ele. Tornando a nossa vida mais preenchida, rica interiormente.

Muitos profetizam conhecimentos e valores, não é que ponham em prática, mas nós podemos aprender a ser melhores com esses ensinamentos.
Perdemos muito tempo a questionar as condutas alheias, mas quando chegarmos lá, no Altíssimo, Ele vai questionar individualmente o que fizemos daquilo que Ele nos confiou, que vai da capacidade intelectual à força de trabalho, até aos bens e à moral de cada um. “Eu te confiei, o que fizeste?” – Será que não estaremos perdidos em conceitos errados, vendidos por aqueles que vêem a vida numa forma linear, sem a perspectiva de vida futura, melhor dizendo de vida após a vida?

Penso que muitas vezes nós não paramos nem para ouvir a nossa voz interior, porque dá trabalho para pensar, para acalmar o interior e respirar, com a desculpa que nunca há tempo.
Nem paramos para ler algo que nos ajude a construir o nosso interior como seres mais saudáveis. As palavras dos grandes mestres que já viveram na terra, nos mostram os caminhos para viver de uma forma correta, com princípios que nos engrandecem. Jesus deixou as parábolas, que nos levam a viagens interiores da verdade, das consequências nos nossos atos, e de como podemos fazer a diferença melhorando as nossas atitudes, num caminho de caridade e amor, em que nós somos o alvo primário, o outro a consequência da melhoria dos nossos atos. Tudo isso se nós quisermos modificar os traços da nossa própria vida.

Alguns estão escritos nas linhas do passado, não podemos apaga-los, apenas analisa-los para tirar o aprendizado, fazendo a diferença na escrita dos traços do presente, os quais ainda estão a ser escritos para que o amanhã, que só a Deus pertence, possamos continuar a escrita dos traços do Futuro, com uma visão mais ampla e sábia dos caminhos reais que ainda faltam por percorrer em nosso interior.

Z.O

domingo, 9 de outubro de 2016

O QUERER MUDAR

“ Há tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-lo, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos” (Fernando Teixeira de Andrade)
Este pequeno texto nos convida a uma reflexão de como se encontra a nossa vida, e, a uma mudança.
É difícil para nós, com a vida corrida, parar para pensar como se encontra o nosso caminhar. Será que somos seres audazes com capacidade de nos transformar, de mudar rumos para outras paisagens, ou estaremos à margem de nós mesmos, pávidos, nessa inércia rotineira de uma vida sem vida?
André Luiz no livro “No Mundo Maior” nos diz: “Não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milénio a milénio.”
Sabemos que cada vida que nos é dada é uma oportunidade de renovação dos nossos valores e aprimoramento do nosso carater. É o rompimento de condutas anteriores que nos leva ao estágio que nos encontramos agora.
Vimos à terra com o propósito de conquistarmos o nosso lugar na vida, como seres amorosos, individuais e únicos que somos, aprendendo o verdadeiro valor do amor, a ser felizes, e a caminhar para o progresso de nossa evolução.
Sendo nós seres únicos, caminhantes individuais numa visão espiritual, somos iguais em determinados padrões, mas na verdadeira diferença da essência.
Deus nos criou simples e ignorantes, para que o progresso fosse feito gradativamente, dependendo da coragem, determinação, curiosidade e fé de cada um.
Após as vidas sucessivas que o ser humano já teve na terra, e o aprendizado que já adquiriu, não compreendemos que a oportunidade que nos é dada é para usarmos em nós mesmos, e continuamos teimosos em achar que o outro é que necessita dessa mudança.
Os conhecimentos que possamos ter são para ser aplicados em nós em primeiro lugar, para quando for verbalizado não serem só palavras ditas, pois podemos ter muito conhecimento, mas sem a sabedoria de sabe-lo usar como exemplo no dia-a-dia, somos como címbalo que retine, produzindo um som sem a vibração do amor. Paulo de Tarso na passagem 1 Coríntios descreve muito bem: “ Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.”
Não quer dizer que aqueles que falam passando seus conhecimentos não tenham a missão de passar a mensagem. O que eu acredito é que esses mensageiros que nos trazem algo que nos toca, levando-nos a uma reflexão, impulsionando-nos à mudança de padrão de nossa vida para uma forma de vida melhor, eles simplesmente são chaves inspiradoras que conseguem abrir o cofre onde nós guardamos esses entendimentos, tornando-os visíveis.
Hermann Hesse escreveu: “ Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo”
Nós também podemos ser essa chave que pode tornar o mundo do outro visível, só isso!
Não cabe a nós a mudança do outro, mas cabe a nós saber aceitar o outro como ele é porque ao conseguir fazê-lo nós estamos a mudar o nosso próprio padrão e a caminhar rumo à travessia de uma vida melhor.
Umas das dificuldades dessa mudança realmente é nossa capacidade de aceitação. Aceitar não é aceitar tudo, cada ser tem limites e dentro dos limites há algumas regras normais de convivência em sociedade, como saber respeitar o próximo e os conceitos morais não moralistas.
A Aceitação passa muito por descobrir como somos, qual é a nossa essência, as nossas intenções, e, quando chegarmos a esse ponto de aceitação de nós próprios teremos a capacidade de aceitar o outro como ele é.
Todo o esforço que façamos na melhoria do nosso interior em prol de um querer mudar, que seja feito dentro de nós, em nosso coração, para que ela seja eficaz em nossa conduta, seja um espelho para a humanidade e aí talvez o outro possa se espelhar em nós e então querer também fazer a sua própria mudança.



Z.O.