“ Há tempo em que é
preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e
esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia: e,
se não ousarmos fazê-lo, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”
(Fernando Teixeira de Andrade)
Este pequeno texto nos
convida a uma reflexão de como se encontra a nossa vida, e, a uma mudança.
É difícil para nós, com a
vida corrida, parar para pensar como se encontra o nosso caminhar. Será que
somos seres audazes com capacidade de nos transformar, de mudar rumos para
outras paisagens, ou estaremos à margem de nós mesmos, pávidos, nessa inércia rotineira
de uma vida sem vida?
André Luiz no livro “No
Mundo Maior” nos diz: “Não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de
um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus herdeiros dos séculos, conquistando
valores, de experiência em experiência, de milénio a milénio.”
Sabemos que cada vida que
nos é dada é uma oportunidade de renovação dos nossos valores e aprimoramento do
nosso carater. É o rompimento de condutas anteriores que nos leva ao estágio
que nos encontramos agora.
Vimos à terra com o propósito
de conquistarmos o nosso lugar na vida, como seres amorosos, individuais e
únicos que somos, aprendendo o verdadeiro valor do amor, a ser felizes, e a caminhar
para o progresso de nossa evolução.
Sendo nós seres únicos,
caminhantes individuais numa visão espiritual, somos iguais em determinados
padrões, mas na verdadeira diferença da essência.
Deus nos criou simples e
ignorantes, para que o progresso fosse feito gradativamente, dependendo da
coragem, determinação, curiosidade e fé de cada um.
Após as vidas sucessivas
que o ser humano já teve na terra, e o aprendizado que já adquiriu, não compreendemos
que a oportunidade que nos é dada é para usarmos em nós mesmos, e continuamos teimosos
em achar que o outro é que necessita dessa mudança.
Os conhecimentos que possamos
ter são para ser aplicados em nós em primeiro lugar, para quando for
verbalizado não serem só palavras ditas, pois podemos ter muito conhecimento,
mas sem a sabedoria de sabe-lo usar como exemplo no dia-a-dia, somos como címbalo
que retine, produzindo um som sem a vibração do amor. Paulo de Tarso na passagem
1 Coríntios descreve muito bem: “ Ainda que eu falasse as línguas dos homens e
dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que
retine.”
Não quer
dizer que aqueles que falam passando seus conhecimentos não tenham a missão de
passar a mensagem. O que eu acredito é que esses mensageiros que nos trazem
algo que nos toca, levando-nos a uma reflexão, impulsionando-nos à mudança de
padrão de nossa vida para uma forma de vida melhor, eles simplesmente são
chaves inspiradoras que conseguem abrir o cofre onde nós guardamos esses
entendimentos, tornando-os visíveis.
Hermann
Hesse escreveu: “ Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso
abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada
lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a
tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo”
Nós
também podemos ser essa chave que pode tornar o mundo do outro visível, só
isso!
Não
cabe a nós a mudança do outro, mas cabe a nós saber aceitar o outro como ele é
porque ao conseguir fazê-lo nós estamos a mudar o nosso próprio padrão e a
caminhar rumo à travessia de uma vida melhor.
Umas das dificuldades dessa mudança realmente é nossa capacidade de aceitação. Aceitar
não é aceitar tudo, cada ser tem limites e dentro dos limites há algumas regras
normais de convivência em sociedade, como saber respeitar o próximo e os conceitos
morais não moralistas.
A
Aceitação passa muito por descobrir como somos, qual é a nossa essência, as
nossas intenções, e, quando chegarmos a esse ponto de aceitação de nós próprios
teremos a capacidade de aceitar o outro como ele é.
Todo
o esforço que façamos na melhoria do nosso interior em prol de um querer mudar,
que seja feito dentro de nós, em nosso coração, para que ela seja eficaz em nossa
conduta, seja um espelho para a humanidade e aí talvez o outro possa se
espelhar em nós e então querer também fazer a sua própria mudança.
Z.O.
Sem comentários:
Enviar um comentário